Posição coletiva Situação de Gaza - AlSur

A catástrofe humana que está ocorrendo na Faixa de Gaza e que se intensificou desde 7 de outubro de 2023 nos convoca, como organizações do consórcio AlSur, a tomar uma posição coletiva pedindo um cessar-fogo e atenção aos direitos humanos que estão sendo violados atualmente.

Condenamos os ataques terroristas do grupo Hamas e a resposta desproporcional das Forças de Defesa de Israel (IDF), que se tornou uma punição coletiva para todo o povo palestino. O bombardeio constante da Faixa de Gaza e os ataques terrestres resultaram na morte trágica de cerca de 10.000 pessoas - a maioria civis e mais de um terço delas crianças - e em várias violações dos direitos humanos e do direito internacional humanitário.

Desde as primeiras semanas do conflito, a capacidade do povo palestino e da mídia de acessar as telecomunicações tem sido limitada devido a uma combinação de ataques a infraestruturas essenciais, cortes de energia, gasolina e interrupções técnicas deliberadas na rede da Internet.  Essa situação afeta diretamente a capacidade de  comunicação fora do território sitiado e de acesso a informações que salvam vidas, inclusive a localização de abrigos e suprimentos. Essas ações só pioram a crise humanitária, impedindo a capacidade de agir e ajudar as pessoas com necessidades urgentes, bem como o registro e a documentação de possíveis abusos de direitos humanos, conforme relatado por várias organizações internacionais, como a OMS, a UNICEF, a Médicos Sem Fronteiras, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, entre outras. 

Além do impacto nas telecomunicações, a liberdade de expressão e informação está sendo violada devido à insegurança dos jornalistas que cobrem a guerra e à implementação de medidas de moderação de conteúdo tendencioso pelas plataformas tecnológicas. 

De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), pelo menos 42 jornalistas foram mortos (37 palestinos, 4 israelenses e 1 libanês), 9 ficaram feridos, 3 foram dados como desaparecidos e 13 foram presos. 

Além disso, a maneira como as principais plataformas da Internet gerenciaram a moderação de conteúdo impossibilita o acesso equitativo às informações, fortalecendo uma falsa dicotomia no nível dos discursos e das narrativas da situação. A moderação excessiva do conteúdo palestino nas plataformas Meta e a presença persistente de discurso racista e incitação à violência apenas amplificam uma narrativa que afeta diretamente a vida, a integridade e a segurança da população civil palestina.

Também foram relatados casos de geração inadequada de emojis pelas ferramentas de IA do WhatsApp e traduções tendenciosas pelo modelo de IA do Instagram. Esses incidentes refletem um problema persistente de desumanização impulsionada por IA que afeta os palestinos devido a vieses em conjuntos de dados de treinamento.

Outro exemplo nessa linha são os modelos de IA e assistentes de voz, como a Alexa da Amazon, que demonstraram ter critérios tendenciosos ao interpretar conflitos. Essa diferença de critérios para abordar a situação apenas torna o debate mais precário e pode até justificar ações desproporcionais contra a população civil em Gaza.

Nesse contexto, como organizações comprometidas com os direitos humanos, unimo-nos à comunidade internacional para denunciar os abusos contra os direitos humanos e exigir ações para restaurar os serviços essenciais nas áreas afetadas, bem como garantias para a integridade das pessoas que foram afetadas. Pedimos o respeito e a proteção de todas as vozes e o direito à liberdade de expressão das pessoas, permitindo o registro adequado, o monitoramento e informações suficientes sobre o que está acontecendo no território da Faixa de Gaza.

Somos solidários à população civil que é a mais afetada por essa situação e reiteramos nosso apelo por um cessar-fogo. 

Essa é uma catástrofe humana que exige a responsabilidade de todos os atores envolvidos.